A ARTE DA GREVE

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Por Luciano Gonsalves Costa

A greve é um direito constitucional assegurado aos trabalhadores, que serve de instrumento de pressão em uma negociação trabalhista. Com isso, na avaliação das reivindicações, são ponderados pelo empregador os transtornos que uma eventual paralisação ocasiona, além do mérito.

No âmbito da administração pública, a experiência comprova que diferentemente do sistema de transporte público em que os transtornos são perceptíveis a olho nu e, consequentemente, tomadas providências mais imediatamente, no caso de paralisação no sistema educacional não são adotadas medidas tão rapidamente porque seus efeitos são percebidos apenas em tempo médio.

 

Contudo, diante do acontecimento lamentável tanto para a história do serviço público estadual como para a historiografia política do Paraná que a sociedade brasileira e o mundo assistiram no dia 29 de abril de 2015, onde devida à intransigência do poder executivo estadual bem como da truculência empregada para conter as manifestações foram registradas pelo menos 213 vítimas diretas, o que dizer da atual greve dos professores no Estado?

Oportuno rememorar que o cenário protagonizado em Curitiba foi marcado pelo lançamento aéreo de bombas de gás lacrimogênio, disparos de balas de borracha, além do uso de cães e de spray de pimenta contra professores, jornalistas, servidores públicos, estudantes ou quem quer que tenha aderido ao protesto coletivo em andamento. Outro evento com repercussão semelhante foi igualmente protagonizado pelo Governo do Estado em 30 de agosto de 1988.

Para além do fato objetivo da obrigatoriedade do cumprimento da lei estadual 15512/2007 pelo Governo do Estado, que instituiu a data-base dos servidores público-estaduais civis como sendo anualmente o dia 1 de maio e tendo como referência a inflação registrada pelo IPCA acumulado nos 12 últimos meses, como superar a crise moral instalada?

Ainda, como a sociedade vê o administrador público que contém uma manifestação daquela maneira? Como compensar as pessoas feridas e aquelas que tiveram a integridade física colocada em risco pelos excessos praticados em 29/4/2015? Por que nossos representantes locais na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) não se envolvem na intermediação do conflito de interesses em curso conciliando o dever de ofício e a opinião pública?

Sem sombra de dúvida, diante da gravidade do episódio do dia 29 de abril a sociedade paranaense acompanha uma paralisação de professores motivada por circunstâncias distintas daquelas de outrora. Entretanto, por outro lado, vale ressaltar que independentemente das adversidades governamentais os docentes nunca deixaram de honrar o seu compromisso para com a comunidade. Resta agora aguardar uma postura semelhante por parte do governo estadual com os professores, e, consequentemente, a sociedade.

Por fim, por que os docentes e técnicos das universidades estaduais que exercem funções no Governo do Estado não entregam seus cargos como forma de solidariedade aos demais colegas dessas instituições?

 

Luciano Gonsalves Costa, Prof. Dr.

Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Coordenador do Mestrado Profissional em Ensino de Física da UEM

Vice-Presidente da Associação dos Docentes da UEM (ADUEM)

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