Percepção sobre questões de inovação na UEM
Entrevista sobre inovação na UEM com o prof. Dr José Roberto Dias Pereira.
1 - Como funciona a gestão de pesquisa em inovação tecnológica (na UEM)?
A atividade de inovação tecnológica dentro da universidade passa por setores gerenciadores de atividades de inovação tecnológica, atentos em separar o que é inovação tecnológica, dentro do contexto da lei de inovação, que define inovação tecnológica como atividades inovadoras inseridas em um produto, processo, ou serviço, sendo este produto, processo ou serviço, pronto para ser comercializado ou patenteado.
Entretanto, o modelo acadêmico segue linhas de produção de conhecimento de domínio publico através da produção de artigos científicos e não de produtos. A discussão é complexa sob diversos pontos de vista. Alguns setores defendem que o resultado das pesquisas cientifica não podem ser considerados produtos acabados prontos para o uso comercial. Outros que até mesmo a técnica ou o método de pesquisa deve ser patenteado, mas na contramão desta linha, de exclusividade para uma empresa sobre o uso de uma técnica está a dificuldade da realização de pesquisa futuras ou usos alternativos em outras pesquisas por parte dos professores pesquisadores da própria universidade. Já no lado industrial surgem argumentos de que eles como contribuintes pagam impostos que financiam a pesquisa e ainda tem que pagar para terem acesso a conhecimento tecnológico gerado na universidade. Do lado na universidade, ela se organiza gerenciando o conhecimento pateteado através dos chamados NITs (núcleo de inovação tecnológica). A criação do NIT por parte das universidades brasileiras é uma tendência sem volta, principalmente, devido à pressão política do governo, imposta pela LEI de inovação. Na UEM já foi criado um NIT, vinculado a PPG e a reitoria, que através de seus gestores e diretores,
trabalham regras e normas de transferência de tecnologia e inovação tecnológica entre a universidade e o setor produtivo, estabelecidas de acordo a lei de inovação federal, que regulamenta as diversas formas de transferência e parcerias entre a universidade e o setor produtivo. No entanto, o bom desempenho dos NITs, passa pela exigência de pessoal ou funcionários treinados com visão empreendedora, conhecimento da Lei de inovação e regras do INPI, que é o órgão que registra as patentes no Brasil. O NIT da UEM conta hoje somente com um funcionário que gerencia as questões relacionadas a escrita de patente, pareceres dos consultores e o próprio registro de patente. Esta estrutura é considerada pequena quando comparada com universidades como UNICAMP, UFSC, USP.
2-Como é administrada a percepção e a identificação para a produção de novos
conhecimentos?
O ato de percepção da inovação deve passar primeiro pelo entendimento do que é
inovar. Inovação no contexto geral é diferente de inovação tecnológica. A complexidade da definição de inovação se resume na interpretação da atual LEI de INOVAÇÃO TECNOLOGICA, N 10.973 de 2004 e o decreto N 5.563, DE INCENTIVO A INOVAÇÃO TECNÓLIOGICA. Entende-se como inovação tecnológica qualquer inovação aplicada em algum produto, serviço ou processo produtivo industrial, bem como a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou processo que implique melhorias incrementais e efetivas no ganho da qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no mercado. Devemos estar atento, porque nem tudo que parece inovação pode ser considerado inovação tecnológica
e nem tudo que é destacado como pesquisa em desenvolvimento de inovação tecnológica pode ser considerada como inovação tecnológica. De forma prática a inovação somente se concretiza quando se obtém o efetivo ganho na qualidade ou produtividade e isto só se verifica após a produção e comercialização do produto. Se um projeto prevê um resultado final difícil de ser mensurado, é um indicativo de que a inovação pretendida, embora considerada “inovação”, não irá agregar rentabilidade ou competitividade no resultado final, ou processo produtivo. Estudos de vários autores tratam diferentes formas de definições de inovação, que se resumem na seguinte equação de inovação aplicada pelas empresas que desenvolvem inovação;
INOVAÇÃO = Idéia + ações + resultado = benefício social. No entanto, a inovação nas empresas segue velocidades diferentes da inovação desenvolvidas pela universidade. A inovação tem que ser concretizada, indo a efetivação da idéia em coisa
real e o melhor resultado apresentado, implicando maior rentabilidade, ou benefício social. Dentro da universidade, escritório de patente, escritório de negócios e o NIT são os responsáveis pela identificação dos projetos de inovação tecnológica, bem como do registro das patentes e das regras de transferências para o setor industrial. Na UEM, nos temos um NIT e um pequeno escritório de registro de patentes, de um só um funcionário, indo na contramão da tendência das universidades UNICAMP, USP, UFRJ, UNESP, UFRGS, UFPE e UFV, mais avançadas no quesito escritórios de patentes e negócios de transferência de tecnologia. De acordo com censo dos diretórios de pesquisa no Brasil – CNPQ de 2004, estas universidades lideram a lista das 5O maiores depositantes de patente, sendo a UNICAMP a líder do “ranking”. Através do censo de diretórios de grupo de pesquisa – CNPQ, de 2004, foi analisado um mapa da importância das patentes para transferência de tecnologia entre as universidades e empresas. O reflexo destas motivações foi a publicação do documento produzido pelo
Ministério de Ciência e Tecnologia e Centro de Estudos Estratégicos, Consolidação das
recomendações da 4o Conferencia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o
Desenvolvimento sustentável, Brasília de 2010.
3- Quais são os incentivos para a área e como estão sendo aplicados? e qual é a repercussão no ensino prático dos acadêmicos para a produção objetiva, funcional?
Os incentivos para inovação tecnológica são cada vez mais crescentes. Hoje o principal
órgão de fomento para as universidades públicas é o CNPQ e CAPES. Temos também a FINEP com projetos de subvenção para as empresas. Todos estes órgãos de fomento colocam, de forma conjunta, cada vez mais em destaque a questão inovação tecnológica. Programas como bolsas DT, bolsas PIBITI e bolsas DTI estão sendo consolidados e incentivados pelo CNPQ. Novas regras e comitês estão sendo formados e não se contempla mais somente a produção de artigos científicos, como ocorria no passado. O ministério de ciência tecnologia expressa claramente às novas políticas de inovação tecnológica provocando e impulsionando a competitividade dos pesquisadores em diversas esferas do conhecimento e a geração de transferência de conhecimento tecnológico entre a universidade e o setor empresarial. A UEM conta hoje com 1 bolsista DT nível 1D e mais 3 bolsista DT nível 2. Estes números juntamente
com vários projetos de desenvolvimento tecnológico, de diversos departamentos e centros, contribuem para a inserção da UEM dentro das políticas de inovação tecnológica, em órgão de fomento como CNPQ, CAPES e Fundação Araucária. As ações imediatas refletidas na educação é a implantação de bolsas PIBITI - CNPQ, distribuídas pela PPG. O programa PIBITI busca incentivar o desenvolvimento de projetos de iniciação com maior potencial de inovação tecnológica. Os impactos funcionais na formação dos alunos poderão ser observados em longo prazo, principalmente com o amadurecimento em inovação por parte dos professores orientadores. Temos hoje na UEM um total de 58 registros de patentes, sendo 02 patentes concedida e 05 arquivadas. Consta também o registro de 6 marcas e 6 registro de programa de computador. A UEM está sendo contemplada desde 2007 até 2011 com bolsas de iniciação PIBITI. Já foi distribuído pela PPG um total de 158 bolsas, 10 bolsas em 2007, 10 bolsas em 2008, 18 bolsas em 2009, 53 bolsas em 2010 e 58 bolsas em 2011. Estas Bolsas são avaliadas pelo CIBIT-PPG-UEM e distribuídas pela PPG para diversos centros da Universidade. O aumento no número de bolsas nos últimos anos é um reflexo do aumento no número projetos de inovação tecnológica e dos bolsistas DT, da UEM, que passou de 1 bolsista DT desde 2005 para 4 bolsistas DT até o presente momento. Tudo indica que estes números estarão crescendo nos próximos anos, frente ao grande interesse por parte dos pesquisadores mais jovem que não vislumbram oportunidades diferentes das encontradas em outros programas de Bolsista de Pesquisa.
4- De que forma as organizações estão se adaptando ao processo acelerado das inovações tecnológicas?
As universidades estão se adaptando de forma crescente. A criação dos NIT foi um passo importante. Acredito que a palavra inovação ainda soa como ruído estranho para muitos professores pesquisadores pelo fato de que a introdução da inovação na universidade pública cria novas maneiras de trabalho ou relações trabalho e por sua vez novos problemas. Estudos de L. M. C. Póvoa questionam claramente se a universidade deve patentear suas invenções. Existem muitos argumentos que abordam o “como” a universidade deve patentear ao contrário se ela “deve ou não patentear”. Estudos mostram o ponto de vista da sociedade, e da universidade, como a sugestão de que a universidade tente licenciar sem exclusividade o que seria desejável, se as universidades concedessem uma “licença para pesquisa” para pesquisadores interessados usarem conhecimentos protegidos pelas patentes em suas
pesquisas e promoverem o avanço da pesquisa cientifica. Os estudos de Póvoa apresentam também que existem vários aspectos que dificultam a distinção, de forma objetiva, em que situação uma invenção acadêmica se enquadra. Criar uma metodologia para estudar cada caso, demanda tempo e processos, que retardam o uso do conhecimento embutido na invenção, seja para pesquisa ou comercialização. Frente a tais circunstâncias, o trabalho dos NIT nas universidades é de fundamental importância para a adaptação das universidades frente às questões de inovação. Por outro lado, uma estrutura de NIT não é suficiente sendo necessária também uma nova maneira de pensar por parte dos pesquisadores, para podermos entrar na lista das universidades brasileira que mais produzem patentes.
5- Quais os impactos na competitividade e nas relações de trabalho?
A inovação é essencial para a sobrevivência e desenvolvimento das organizações no
mercado. O ambiente propício à inovação deve contemplar o incentivo e a colaboração entre todos dentro de uma corporação, reconhecimento àqueles que tentam proporcionar práticas inovadoras dentro do ambiente de trabalho, diminuição de hierarquias e barreiras de comunicação entre as pessoas e promoção de cultura voltada para a troca de conhecimento entre vários setores de pesquisa. Tais relações são difíceis no ambiente acadêmico de universidade pública, e quando promovidas acontecem de forma lenta e gradual se comparado com o setor empresarial, que exige um desenvolvimento em inovação tecnológica rápido, competitivo e sustentável. O principal impacto sustentado pelo governo é que ao impulsionar a competitividade pelas atividades de inovação tecnológica nas universidades públicas provocasse uma maior exigência da educação escolar. Sem educação básica ou profissionalizante de qualidade não teremos inovação. E sem inovação o Brasil não se consolida como pais em desenvolvimento. A troca de conhecimento com os atores dos mais diferentes ramos de atividade geram inovação e isto acontece muito melhor quando temos formação escolar de qualidade. A china investiu pesado na educação de engenheiros e pesquisadores nos últimos 10 anos e hoje se projeta como país com forte desenvolvimento tecnológico. Eles já detêm tecnologias de máquinas que fazem máquinas, e o Brasil está somente acordando nesta questão. No contexto da inovação tecnológica, a competitividade para a universidade, se dá aumentando o quantificador de inovação que é o número de patentes de cada universidade. Programas como bolsas PIBITI e bolsistas DT, ambos do CNPQ, criaram novas modalidades de pesquisadores para as universidades e a absorção destes elementos dentro da universidade é um importante incentivo para a pesquisa em inovação tecnológica dentro do âmbito acadêmico. Se considerar oportuno acrescentar outras informações, por favor, sinta-se à vontade.
Prof. Dr José Roberto Dias Pereira (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.) foi o primeiro professor Bolsista de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora (DT-CNPQ) da UEM. Atualmente é bolsista DT nível 1D. É um dos membros de conselheiros do NIT - PPG - UEM. Também é membro do CIBIT – PPG - UEM. É Prof. Adjunto do DFI-UEM. Desenvolve pesquisas inovadoras em Eletrônica, aplicadas em Instrumentação Industrial, usando tecnologias de microcontroladores, ultra – som, aquecimento magnético e laser de alta potência com aplicações em corte, descolaramento de materiais e dispositivos magneto-ótico. Atualmente faz parte de dois grupos de pesquisa na área de Física na UEM, Grupo Laser e Aplicações e Desenvolvimentos de Dispositivos Multifuncionais, e desenvolve também parcerias com outros grupos de engenharia, da UEM e outras universidades do Paraná.