Frequência de indígenas em Medicina é polêmica na UEM
Clipping 29-03-11
Rafael Silva
Câmpus de Maringá da UEM: universidade tem hoje 30 indígenas matriculados. Eles recebem bolsa do governo do Estado para estudar. Os cerca de 200 estudantes de terras indígenas do Paraná matriculados em universidades estaduais recebem do governo do Estado uma bolsa mensal de, no mínimo, R$ 633. O valor sobe para R$ 949,50 quando há dependentes (cônjuge ou filhos).
Os 30 índios que estudam na Universidade Estadual de Maringá (UEM) também são bolsistas, mas parte deles estaria recebendo a ajuda sem comparecer às aulas. "O gastos com alunos faltosos é um desperdício de dinheiro público. Pelo menos na Medicina, eles (índios) nunca aproveitaram a oportunidade", reclama uma professora do curso.
A discussão sobre a frequência dos estudantes indígenas parece ser tabu na UEM. A reportagem foi "alertada" pela Comissão Universidade para os Índios (Cuia) sobre o risco de responder processo judicial caso publicasse algo a respeito e a professora de Medicina só ousou tocar no assunto com a garantia de que sua identidade seria mantida em sigilo.
A percepção de docentes indignados com a falta de interesse, diz a professora, é de que alguns indígenas estariam mais preocupados com os benefícios oferecidos do que com o diploma.
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Alguns bons exemplos
O acesso dos estudantes indígenas ao ensino superior é resguardado pela lei estadual 13.134/2001, que reserva seis vagas sobressalentes nas universidades públicas do Estado por ano – com limite de duas vagas por curso.
De uma forma geral, a proposta do governo é garantir aos índios o acesso à faculdade para que eles apliquem o conhecimento adquirido em suas comunidades, depois de formados. Eles incentivariam outros jovens a fazer o mesmo, criando um ciclo virtuoso.
Como incentivo, além do acesso facilitado à academia e da bolsa mensal, alguns recebem moradia da Associação Indigenista de Maringá (Assindi) e eventual apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai) na compra dos livros mais caros. Ao menos no curso de Medicina, a proposta de inclusão social não estaria vingando.
A professora diz que falta a alguns índios a percepção do valor de uma cadeira na universidade. No último Vestibular de Verão da UEM, por exemplo, Medicina foi o curso mais concorrido com 143 candidatos por vaga para não cotistas. "Há exceções, claro, mas a maioria (dos indígenas) do curso comparece pouco às aulas e quando fazem as provas têm desempenho muito abaixo da média dos demais estudantes", comenta.
Frequência
A reportagem foi à universidade para contar a história de vida da estudante aprovada em primeiro lugar na UEM entre 86 candidatos inscritos no último Vestibular dos Povos Indígenas. Apesar da informação da Assindi de que ela teria ido à universidade na quinta-feira e sexta-feira da semana de Carnaval, a estudante faltou às aulas.
A professora conta que a Cuia costuma cobrar relatório da frequência dos indígenas. No curso de Medicina, diz ela, são quatro indígenas e entre eles as faltas são mais comuns do que as presenças. "Ela (estudante procurada pela reportagem) só veio a uma aula este ano", revelou.
O desempenho nas provas não interfere na concessão da bolsa, mas a frequência, sim. Conforme a resolução 179/2010, da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), compete à Cuia atestar a frequência dos bolsistas para a liberação mensal do benefício. "O estudante que apresentar frequência inferior a 75% nas atividades acadêmicas perderá o direito à bolsa a partir do bimestre subsequente", diz o parágrafo 5º do artigo 4º.
A coordenadora da Cuia, Rosângela Celina Faustino, explica que é preciso compreender que a universidade passou a fazer parte do universo indígena há dez anos. Num primeiro momento, diz ela, é normal eles estranharem a vida acadêmica e a realidade da cidade grande.
"Acompanhamos a frequência diária deles, que podem faltar às aulas desde que dentro do limite permitido", disse Rosângela, que garantiu – sem dar detalhes – que já houve casos de estudantes que perderam a bolsa por conta das faltas.