Professor Bruno De Angelis fala de gratidão ao receber título e Brasão do Município
O professor da UEM, Bruno Luiz Domingos De Angelis, na última quarta-feira (9), foi homenageado pela Câmara de Maringá e, ao discursar, lembrou dos amigos e familiares com palavas de gratidão. Confira, a seguir, o discurso na íntegra.
Foto: arquivo UEM
Vou falar sobre GRATIDÃO e VIDA.
Na UEM vivi um percurso que abarca um arco temporal de 38 anos - uma história dedicada à Instituição como professor, pesquisador, orientador e administrador.
E é esse conjunto de vida acadêmica que me propicia receber hoje tão elevada distinção: o TÍTULO DO MÉRITO COMUNITÁRIO, o que muito me honra. Eu não teria merecimento em receber a presente honraria se ela não fosse compartilhada, pelo menos em lembrança, com Mulheres e Homens, a maioria anônimos, como o SENHOR JOSÉ RODIGUES, pai da Vereadora Ana Lúcia, com o qual trabalhei na UEM, e que me ajudaram a escrever e a construir parte das mais importantes da minha vida – minha trajetória acadêmica.
Não apresentarei uma linha do tempo formal, linear, temporal, mecânica, como se fosse a cronologia fria de uma vida; optei por expor as emoções de uma existência até esse momento. Portanto, reitero, é de GRATIDÃO que vou falar.
GRATIDÃO a essa casa de leis, na pessoa de seu PRESIDENTE, VEREADOR MÁRIO HOSSOKAWA, pela concessão do TÍTULO DO MÉRITO COMUNITÁRIO, e da OUTORGA DO BRASÃO DO MUNICÍPIO. Permita-me, SENHOR PRESIDENTE, nesse início, fazer uma breve reflexão sobre minha vida.
Penso que toda vida é parte de um promontório que se lança rumo à eternidade. Sendo parte, construo minha existência em histórias escritas com as dores que o mundo oferece; sou passageiro em busca de um destino final. Seria ilusório não navegar por temor, pois a segurança não a encontro em terra firme, mas na firmeza com a qual enfrento os mares revoltos. A prudência ensinou-me a ter paciência e tolerância.
Aprendi a brincar com o tempo e as idades de cada tempo – sou criança em tempo integral, e adulto nas horas vagas. Não me causa espécie qualquer atitude humana, pois aprendi que o homem é um ser em construção e, em sendo imperfeito, assim como eu, sou aderente à compreensão. Erro muito e pouco acerto, e nisso reside minha natureza: humana, nem pequena nem grande, mas na exata medida daquilo que sou.
SENHOR PRESIDENTE, VEREADOR MÁRIO HOSSOKAWA, Senhoras Vereadoras e Senhores Vereadores, tenham certeza que saberei ser digno, honrando e respeitando o título a mim concedido.
GRATIDÃO imensa à AMIGA, PROFESSORA E VEREADORA ANA LÚCIA RODRIGUES pela indicação de meu nome a receber essa honraria que me comove e me emociona, estendendo minha GRATIDÃO ao AMIGO e VEREADOR SIDNEI TELLES, por ter sido coautor na proposição de meu nome. Caríssimos Ana Lúcia e Sidnei Telles, permito-me mais uma breve reflexão sobre parte de minha vida.
Era o ano de 1980 quando ingressei na Universidade Estadual de Maringá como acadêmico do Curso de Agronomia. Graduei-me Engenheiro Agrônomo em 1984 com dois firmes propósitos profissionais: o primeiro, ser professor na universidade pela qual me graduei: a UEM; e, o segundo, ser pesquisador da área de paisagismo urbano. Cumpri à risca as duas promessas que fizera a mim mesmo. Permitam-me compartilhar e dizer um pouco de um período que precede meu ingresso na UEM, a tal da adolescência.
Quando adolescente vivia aguardando ansiosamente a vida de homem adulto, achando que um mundo perfeito me esperava de braços abertos. Cresci acreditando nas pessoas, e que elas seriam sempre boas e generosas. Cresci achando que nunca haveria um só dia em que alguém pudesse me magoar. Acreditava que a vida me faria sempre feliz. Então vieram os deuses e me fizeram ver que não seriam complacentes comigo: decidiram que seria melhor eu conhecer a natureza humana desde cedo. E assim foi...
Viver a adolescência levou tempo, foi doída, esgarçou a paciência, congestionou os sentidos, corrompeu as emoções, distorceu as lembranças naquelas tantas andanças de idas e vindas, como se não fossem findas. Não houve como banir as tristezas, nem bulir com as incertezas e surpresas daquele tempo, pois viver era preciso: é feito lava que segue jornada e nada a estanca. É quase uma carranca, tanto franca feito branca, quanto opaca de ressaca. Foi preciso ser capaz sem muito esmorecer; levantar e seguir; reinventar-se e ressignificar-se.
Tenham certeza, querida VEREADORA ANA LÚCIA RODRIGUES e querido VEREADOR SIDNEI TELLES, que guardarei na memória do meu coração a generosidade imensa dessa iniciativa que me rende homenagem. E quando o tempo do esquecimento começar a povoar minha mente, saibam que ao tocar com meus dedos esse diploma, de pronto terei as emoções desse momento e os vossos nomes reavivados em minha memória.
GRATIDÃO à Universidade Estadual de Maringá. Lá me graduei, trabalhei por 38 anos e me aposentei em 5 de janeiro do presente ano. Senhora Vice-Reitora, Professora Gisele, homenagem a mim no dia de hoje entendo como homenagem à UEM.
E aqui faço um parêntese para lembrar o que minha Mãe dizia sobre a importância dos estudos na vida: “estuda filho, pois o dinheiro pode fazer um homem rico, mas só os estudos fazem do homem, Senhor”.
Impossível esquecer Professora Gisele, que aqui me honra com sua presença, dos anos 1986 a 1990, quando era reitor da UEM, naquele período, o PROF. FERNANDO PONTE DE SOUSA, tendo como vice-reitor o PROF. MANOEL JACÓ GARCIA GIMENES. Foram esses dois homens, magnânimos e generosos, que me introduziram, definitivamente, no universo da UEM. Sabe Professora Gisele, há uma magia que resiste à ferrugem do tempo: minha infância. Um tempo que insiste em impregnar a vida com doces lembranças.
Por há muito ter cruzado o território que me trouxe à vida adulta, busco no tempo de então aconchego para os dias de “Homem grande”. Como a ave que volta ao ninho após longa jornada, meu voo intimista se dá rumo ao meu passado. Vou em busca da criança que ainda hoje, nos seus 64 anos, deixou algo de muito bom em mim. Quando criança aprendi que era melhor ter mais asas que pés, pois com aquelas sonharia, enquanto com esses me tornaria adulto. E muitas vezes, no mundo de homem adulto me vejo querendo de volta minha infância com as burquinhas coloridas. Acho que queria acordar de pijama de flanela e voltar a ser o branquela daquela aquarela.
Cara Vice-reitora Professora Gisele, agradecer à UEM é lembrar e ser grato, também, a dois outros homens que me fizeram conhecer e trabalhar com o fantástico quadro humano que forma a UEM. O período eram os anos 2014 a 2018, e eram reitor, e vice-reitor, respectivamente, os PROFESSORES MAURO LUCIANO BAESSO e JÚLIO CÉSAR DAMASCENO.
GRATIDÃO a esses homens generosos que me convidaram para ser Pró-reitor de Recursos Humanos e Assuntos Comunitários da UEM. Devo dizer que naquele tempo de vida adulta não me furtei das vivências de tudo que quis e fiz; não fugi dos anseios da Alma; não carreguei os rancores das experiências sofridas; não amargurei as frustrações nem alimentei as decepções. Não fiz do tempo um inimigo - entendo suas razões para vincar meu rosto e impregnar na Alma as marcas das minhas vivências, afinal, toda vida é uma história a ser contada.
Nunca permiti que a ternura dos meus sentimentos fosse superada pela raiva, ou que o abatimento fosse maior que a vontade de continuar. Não subjuguei, pois aprendi que grilhões não conquistam, e que o medo é sombra que faz fenecer a vontade. Nem glória nem derrota me seduzem, pois conheço a fugacidade de ambos. Não sendo moralista de fachada, não perdi a ética nem a dignidade. Conheci os sanatórios da vida e, com eles, os Homens. Vivenciei o egoísmo, a indulgência dos sentimentos, a miséria de caráter, a insensatez de egos que matam consciências, a traição sorrateira que se alimenta da confiança.
Por outro lado, conheci em profusão a caridade amiga, a generosidade de Almas benfazejas, a amizade sincera, a alegria e o pranto das derrotas e realizações. Nunca quis e nunca tive uma vida comportada, formatada por quem quer que fosse. Sempre acreditei na minha rebeldia insana, leviana: esse doce flagelo que me leva. Tenho por ideologia minha consciência que navega na convicção do meu caráter.
GRATIDÃO aos meus amigos. São tantos, que seria impossível a todos nomear. Mas na impossibilidade de citá-los, trago dois a representá-los: WILLIAM MÁRIO DE CARVALHO NUNES e MARIA LUÍSA FURLAN. Os nomeio hoje por serem os decanos entre todos os meus amigos. Amizade com o William de 43 anos. Juntos fizemos o curso de Agronomia, juntos ingressamos na UEM, e juntos continuamos até hoje. Maria Luísa a conheço desde os meus 17 anos, em um tempo no qual os amigos emprestavam os ombros e os ouvidos para nos amparar e nos ouvir.
SENHOR PRESIDENTE, VEREADOR MARIO HOSSOKAWA, quero aqui externar GRATIDÃO à minha família, meu porto seguro, meu aconchego. A alegria que sinto em meu coração hoje é imensa, não só pelo título ora recebido, mas pela coincidência de uma data: há 11 anos, em 2012, nesse mesmo dia, meu Pai nos deixou e partiu para a Pátria Espiritual. A ele e a minha Mãe, que também partiu há 6 meses, dedico essa homenagem.
Vincenzo e Dora De Angelis, são meu Pais. Imigrantes da Região do Abruzzo, no centro-leste da Itália, chegaram ao Brasil em 1956. Em 21 de junho de 1959, na Cidade de Cornélio Procópio, Paraná, venho ao mundo, sendo o segundo de cinco filhos. Desde tenra idade aprendi com meus Pais, e no convívio com meus irmãos, que amar nunca deveria ser apenas um verbo conjugado com as declinações todas que a gramática nos faz decorar, mas sim, um estado de espírito que eleva a Alma às esferas mais nobres da essência humana.
Na impossibilidade de, nesse momento, agradecer e nominar todos os meus familiares, nominarei meus irmãos.
GRATIDÃO a minha irmã LOREDANA DE ANGELIS, com quem aprendo todos os dias o valor da resiliência, da fé e da fortaleza que temos em nosso interior, e a disposição em nunca esmorecer. Obrigado Naná.
GRATIDÃO a minha irmã ANNA CONCHETTA DE ANGELIS, pelo aprendizado constante que tenho ao observar as suas lutas, por sua competência profissional ímpar, e pela seriedade com que encara a vida. Obrigado Ninha.
GRATIDÃO a minha irmã CARLA PETRONILLA DE ANGELIS, por me ensinar a ser feliz mesmo quando a vida não lhe sorri, ou então quando os problemas parecem ser maiores que nossa estatura. Obrigado Cuca.
GRATIDÃO a meu irmão GENEROSO DE ANGELIS NETO, por ser meu grande amigo, meu farol, meu exemplo de conduta e meu conselheiro de todas as horas. Obrigado Gê.
Peço escusas pelo alongamento de minha fala, mas já encaminhando para o final, Senhor Presidente, quero registrar uma última GRATIDÃO.
Poucos falam de suas relações; poucas pessoas mostram como alguém é importante em sua vida. É preciso partilhar quando se é feliz; é preciso mostrar que uma relação, que se estende no tempo, é construída nas diferenças caleidoscópicas próprias de cada ser humano; na complexidade de personalidades tão dispares e, por isso mesmo, tão unidas, tão próximas.
Nesse momento quero registrar meu sentimento mais nobre. Foi então que tudo começou a mudar em minha existência. Conheci um Homem que me fez ver que eu só seria feliz se vivesse a minha vida na essência daquilo que eu era e sou.
Pude então cultivar a dignidade de Homem que não se via mais como um diferente, nem fui hipócrita para viver infeliz e fazer outros infelizes. Essa época era o ano de 1989, e conheci a parte melhor da vida: conheci meu marido, Sérgio Schiavon. Abria-se ali um mundo novo para mim, pois até então só amara mulheres, e diga-se, Mulheres extraordinárias. E amei, e amo, o único Homem que conheci. E um dia ele me disse: “se você quiser voar, te levo distante”. Você me deu asas, Sérgio, levando-me aos campos de paz que existiam dentro de mim, e que eu sequer os conhecia. Levado pelo vento que você trouxe, respirei da liberdade que conheci contigo, e hoje estamos aqui: uma história de 34 anos.
Há doze anos tivemos o diagnóstico de sua doença: portador de Parkinson. Nesse tempo, Sérgio, temos sido protagonistas de uma história que poderia ter outro enredo; uma história onde poderíamos ter perdido a fé, mas não a perdemos - perdemos o medo.
Não paramos de sonhar, mas deixamos de ser pessimistas. Não esmorecemos na luta, no entanto, banimos o comodismo. Não nos entregamos, mas nos fortalecemos nas adversidades.
Procuramos viver intensamente, deixando pelo caminho o que não nos torna melhores. Aprendemos que agradecer é mais fácil que reclamar e, por isso, hoje temos nos dedicado mais ao sorriso que às lágrimas. O tempo tornou-se algo especial para nós e, estarmos juntos, a maior parte do tempo, passou a ser prioritário.
Compreendemos que o nosso futuro é o hoje, e o amanhã pode vir a ser apenas o ontem. O hoje nos tem sido muito rico, pois redescobrimos o valor das pequenas coisas, como o riso... rimos muito - rimos dos tremores, dos congelamentos, dos travamentos, das lentidões, dos tropeços, dos passos trôpegos.
Graças a esse tempo de convívio com o Parkinson, aprendemos que é mais importante deixarmos nossa identidade em tudo que fazemos, e não apenas as nossas digitais - aquela impregna a vida, essas, apenas tocam-na. No início tivemos muito medo; sentimos vergonha - procuramos esconder; tivemos dificuldade em compreender como e por que! Tateamos o delicado caminho da não aceitação e da revolta. Por fim, entendemos que somos privilegiados.
E o que dizer das lágrimas... tantas, veladas, escondidas, solitárias, solidárias. Quantas vezes essas lágrimas tiveram que ser contidas e ceder lugar à alegria. Em tantos momentos a voz embargada que queria chorar precisou dar vez à voz que animava, para dizer: coragem Sérgio - era o canto da Alma que buscava a alegria e ansiava por liberdade - era preciso. São tantos os desafios quase diários que se nos impõem... são descobertas que renovam nossa vontade de seguir; dúvidas ansiosas que não encontram respostas; expectativas que nascem e se frustram na mesma velocidade; pequenas conquistas que nos animam e nos ensinam a transformá-las em grandes vitórias.
O fato é que nunca perdemos a esperança, nunca deixamos de acreditar; nunca foi inglória a vontade e a luta pela superação, mesmo que por vezes nos sintamos cansados e abatidos. As limitações, embora presentes, não nos impedem de sonhar e realizar - sabemos da importância de vivermos intensamente cada momento. Por fim, não temos medo do futuro, pois mais forte é nossa crença de que tudo é tão somente uma passagem... GRATIDÃO Sérgio. Obrigado por me ensinar com seu silêncio; obrigado por me ensinar a ser um Homem melhor.
Encerrando, SENHOR PRESIDENTE, quero dizer que hoje, chegando aos 64 anos, consigo entender o que meu Pai dizia no final de sua vida ao afirmar: “filho, que pena que o tempo passou tão rápido”. Hoje sei que terei menos tempo para viver do que já vivi até agora.
Resumindo: tenho mais passado que futuro; mais histórias escritas do que roteiros a serem pensados; mais estradas percorridas que caminhos a percorrer; muito mais lembranças e recordações do que acalanto de realizações grandiosas. Não me entristece essa constatação, pela simples razão que sempre vivi intensa e plenamente minha vida, minhas emoções, meus momentos.
Fiz do tempo um Amigo, aliado de todas as horas e cúmplice dos meus erros e acertos. Hoje estou ali, em uma suave curva feita de ondas, onde a idade que avança encontra um pouco de sabedoria para saber que é tempo: tempo de começar a amalgamar o barro das recordações; tempo de caçar nuvens, voar e, de olhos fechados, ser pipa abraçada pelo vento; tempo de aplacar a voracidade do próprio tempo - tempo de brigar com o relógio para transformar um minuto em uma hora; tempo de fazer das lágrimas bálsamo para a Alma; tempo de ouvir o brilho das estrelas, brincar com as letras e escrever; tempo de olhar para trás e simplesmente rir, sem cobrar o que não fiz; tempo de folhear o tempo e colorir o preto-branco das recordações.
Às vezes sinto falta dos meus heróis de infância, aquela doce infâmia, e então fico esperando-os... Acho que vou continuar acreditando nos pequenos milagres da minha existência. Vou continuar amando o mar, suas areias, as montanhas que o envolve, os ares que vadeiam feito eu por aquelas paragens. Vou continuar amando a neve, os cães – todos eles -, as orquídeas e as gaivotas. Vou continuar construindo meus castelos de sonhos, acreditando que sempre é melhor crer que duvidar.
Quero continuar sendo esse meliante mendicante das letras, pequeno vulgar que vai aninhar-se no colo do tempo; deitar-se com a embriaguez de todos os sentidos, e ser amante a contemplar a vida vivida, sendo apenas espectador do meu tempo.
Gratidão à vida,
Gratidão à Deus.
Muito, muitíssimo obrigado.
Bruno Luiz Domingos De Angelis
9 de fevereiro de 2023.
Para assistir à cerimônia de homenagem ao professor De Angelis , acesse: https://www.youtube.com/watch?v=kFlLm6tyWpQ
Parabéns ao professor Bruno De Angelis e GRATIDÃO pela convivência e amizade,
ADUEM.