Professor: profissão ou vocação?

A data de 15 de outubro leva a algumas reflexões sobre a identidade do ser professor e se o exercício da docência é uma profissão ou vocação. Professor João Marcelo Crubellate contribui para essa reflexão com uma análise crítica da prática docente. Vale a pena ler!

Por João Marcelo Crubellate

Acostumamo-nos a tratar a docência de forma idealista e romântica. Com frequência ouvimos e repetimos ideias tais como: "ser professor é exercer uma vocação", "ser professor é exercer um sacerdócio", "ser professor é transformar o mundo". Igualmente a cultura e a arte popular - especialmente o cinema - trata de representar a docência como uma atividade heroica, quase mágica, por meio da qual pessoas extraordinárias enfrentariam situações de extrema dificuldade e adversidade. Contra todas as expectativas e a despeito de todos os riscos e resistências, esses heróis e essas heroínas imaginárias, encontrando forças apenas em si mesmos e em si mesmas, "vão adiante, acreditam em seu potencial e no de seus educandos e, finalmente, quando tudo já parecia perdido, veem que o seu esforço não foi vão!"

Emocionante! Mas muito distante da realidade. Outro exemplo, como veremos nesses dias em curso, se encontra nas peças publicitárias que prestam homenagens pelo dia do professor.

O glamour com que frequentemente se aborda a atividade da docência - no cinema, na publicidade, e de modo geral - pode até encantar; porém, para dizer o mínimo, não ajuda muito.

Professor é profissão! A docência, no mais das vezes, é exercida em um cotidiano de atividades um tanto repetitivas, pouco dadas a rompantes heroicos, porquanto exigentes de precisão, de zelo, de domínio de conteúdos e de métodos que, em si mesmos, não são, em geral, definidos como fonte de prazer imediato (ainda mais em uma época em que a tecnologia e uma certa visão romântica da vida nos oferece o prazer sensorial ao custo de um clique!).

Professor é profissão, e o exercício dessa profissão exige, também, elevadas doses de capacidade crítica, de comprometimento com valores caros à civilização, como a diversidade, a democracia, a tolerância, a liberdade verdadeira, o bem comum e o exercício da razão. Tal empenho nem sempre será fascinante e, em especial, em um país em acelerado processo de degeneração social, tende a resultar em algum grau de frustração e insucesso.

Apesar disso - antes: por causa disso - a professora, o professor, é imprescindível enquanto profissional.

Ao afirmar isso, queremos dizer que precisamos nos afastar dos estereótipos, geralmente injustos, dos ideais e dos simplismos que, de resto, servem para justificar baixos salários, cortes orçamentários, políticas e práticas aviltantes. Queremos dizer, principalmente, que é necessário reconhecer e valorizar a docência a partir de políticas públicas e correspondentes ações que promovam a sua atratividade para as novas gerações, que garantam adequada formação, estabilidade, autonomia. Principalmente, que cuidem da efetiva distinção dos profissionais docentes por meio de salários dignos e condições materiais e simbólicas que efetivamente viabilizem o seu trabalho.

Isso é necessário porque, sendo a docência a profissão de base para as demais formações profissionais, não se pode esperar bom resultado se a profissão de professor continuar sendo tratada sem o devido respeito, como se o desenvolvimento de uma sociedade pudesse depender do suposto heroísmo e caráter extraordinário de alguns de seus membros.

Que as reflexões deste 15 de outubro, Dia do Professor e da Professora, nos inspirem a ir além da atitude laudatória e a reconhecer, com seriedade, a importância da profissão de professor!

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