A manifestação do pensamento na política
"Ao calar as diferenças, o ódio esbarra na liberdade de expressão e deturpa o sentido de manifestação do pensamento". Leia o artigo da professora Tania Tait.
Artigo produzido pela professora e escritora Tania Tait.
A Constituição Brasileira, chamada “constituição cidadã”, promulgada em 1988, apresenta no inciso IV do Art 5, a garantia da manifestação de pensamento: “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.
Durante as décadas que se seguiram a promulgação da Constituição, no bojo da ânsia de expor ideias e realizar manifestações antes proibidas pelo governo da ditadura militar, trouxe o ilusório pensamento que se poderia expressar pensamentos contraditórios. Por um certo período, isso se tornou realidade, facilitada por governos do campo democrático-popular.
No entanto, ao assumirem governos assumidamente neoliberais de direita e extrema direita, a situação começou a ser modificada. Já na campanha eleitoral de 2018, percebe-se o ataque aos que pensam diferente, principalmente quando vinculado ao que se convencionou chamar de “esquerda”.
Pessoas foram atacadas, até mesmo por portarem roupas vermelhas por ser o vermelho a cor símbolo dos partidos de esquerda; as redes sociais tornaram-se palco de xingamentos e ameaças. Pessoas sofreram agressões verbais e físicas nas ruas, inclusive pessoas foram mortas por manifestar seu pensamento.
Patrocinado por posturas ditas conservadoras e de direita, houve um grande processo de intimidação veiculado tanto no mundo real como no mundo das redes sociais, a ponto das pessoas retirarem adesivos de seus carros, não assumirem posições para não serem atacadas, inclusive fisicamente.
Junte-se a isso, as Fake News e a desinformação que impulsionaram a animosidade e incentivaram o ódio. Ódio às feministas, ódio aos negros, ódio aos indígenas, ódio aos lgbt, ódio as ongs, ódio aos defensores do meio ambiente...enfim surgiu uma infinidade de ódios no cenário nacional.
Esse ódio todo tem uma única finalidade: calar as diferenças e implantar uma ditadura onde prevalece apenas o pensamento dos que propagam o ódio.
Ao calar as diferenças, o ódio esbarra na liberdade de expressão e deturpa o sentido de manifestação do pensamento. Não é lícito nem legítimo atacar física ou verbalmente adversários políticos, tratando-os como se fossem inimigos de morte.
Algo muito sombrio se instalou no céu das terras brasileiras quando o ódio passou a dominar a discussão política encobrindo a apresentação de propostas para melhorar a vida da população.
Esse “ódio” precisa ser combatido para que a democracia seja efetivamente instalada. É um aprendizado de respeito às diferenças, inclusive de respeito às posições políticas distintas.