Ensino Remoto Emergencial: desafios e oportunidades
Professora Maria Luisa Furlan Costa faz uma reflexão acerca do Ensino Remoto Emergencial (ERE) na UEM. Ela ressalta a necessidade de haver compartilhamento de experiências desenvolvidas em escolas e universidades para o aprimoramento das práticas pedagógicas.
Por Maria Luisa Furlan Costa
O nosso ponto de partida para uma reflexão sobre o Ensino Remoto Emergencial (ERE) é o fato de que, em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a doença causada pelo novo coronavírus, a Covid-19, como Emergência de Saúde Pública de importância internacional.
A partir de então, o distanciamento físico/social passou a ser considerado uma necessidade e, consequentemente, o fechamento das instituições educacionais foi entendido como condição para preservação da saúde e de proteção a vida.
Assim, a suspensão das aulas presenciais foi decretada, a partir de março deste ano, e provocou um amplo processo de discussão envolvendo os mais diversos termos para caracterizar as atividades de ensino-aprendizagem, realizadas fora do espaço físico de uma escola ou de uma instituição de ensino superior.
A adoção do termo Educação a Distância (EaD) gerou polêmicas de toda natureza e, em função disso, passamos a ouvir termos como educação online, ensino mediado por tecnologias, educação digital, dentre muitos outros, incluindo o ensino remoto.
É importante destacar, diante desse cenário, as tentativas que foram realizadas para se estabelecer a distinção entre a EaD e o ensino remoto. Muitos textos foram redigidos e publicados com o intuito de demonstrar as diferenças entre estes dois termos, mas, a meu ver, esta é uma questão secundária. Eu, enquanto pesquisadora da área de Educação a Distância e Tecnologias Educacionais, fiz a defesa, desde o início, para que nós pudéssemos encontrar uma alternativa viável para manter o isolamento físico, independente do termo a ser utilizado para as atividades realizadas de forma distinta do ensino presencial.
Como professora da Universidade Estadual de Maringá, mais especificamente do Departamento de Fundamentos da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação, fui convidada para participar de eventos organizados com a finalidade de se pensar e repensar as atividades de ensino em tempos de pandemia.
Foram muitas lives, webinars, palestras e mesas-redondas que buscaram encontrar, de forma coletiva, alternativas para um problema sem solução, pois seria ingenuidade acreditar que a aceitação de qualquer forma de ensino seria consentida de forma tranquila por todos os estudantes e professores, principalmente por parte daqueles que desde sempre se colocaram contra a adoção da educação a distância que é uma modalidade de ensino oficialmente instituída no Brasil pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394/96).
Não vou entrar aqui na distinção da tomada de posição entre as instituições públicas e particulares, mas quero reforçar que é no espaço educativo público que o debate se deu de forma mais intensa e contundente.
Diante disso, é somente a partir de agosto de 2020 que a maior parte das universidades públicas passam a ofertar, nos cursos de graduação, o Ensino Remoto Emergencial. Por conta das especificidades da pós-graduação Stricto Sensu, a maioria das atividades foram realizadas, tais como banca de defesa de dissertação/tese, orientação de dissertação/tese e aulas no sistema remoto. Para alguns, a experiência foi mais tranquila, para outros, nem tanto. Mas de minha parte quero ressaltar que foi uma experiência que me trouxe muito aprendizado e que, com certeza absoluta, agregou conhecimentos para os alunos com quem trabalhei.
Vale ressaltar que a demora na tomada de posição para a implementação do ERE na UEM é resultado da adoção de uma forma de gestão democrática, em que cabe ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEP), a decisão no que se refere às atividades pedagógicas. O debate foi tenso e intenso até que ocorresse a aprovação e publicação da Resolução no 006/2020-CEP, que instituiu o Regime Remoto Emergencial.
Com isso chegamos a uma solução para todos os problemas? É claro que não. A pandemia e, por consequência, a suspensão das aulas presenciais trouxe para o cenário educacional problemas que no dia-a-dia acabam ficando esquecidos, especialmente no que se refere a desigualdade social que existe e persiste em nosso país desde sempre, bem como a dificuldade de acesso tecnológico por parte de uma parcela significativa dos/as brasileiros/as.
Em função de tudo isso é que defendo a adoção do Ensino Remoto Emergencial, uma ação coletiva para capacitação do corpo docente das instituições públicas de ensino superior e a luta permanente por políticas de inclusão digital que vai muito além da entrega de equipamentos para os estudantes.
Ademais, tenho insistido na importância do compartilhamento de experiências desenvolvidas nas escolas e universidades públicas que possam indicar caminhos possíveis para o aprimoramento das práticas pedagógicas desenvolvidas em tempos de pandemia. Pois isso pode contribuir para melhorar a qualidade da educação em nosso país.
Que possamos, em tempos de pandemia, enfrentar os desafios do Ensino Remoto Emergencial e fazer desta experiência uma oportunidade de um novo modo de ensinar e aprender com o uso das tecnologias digitais. Que tenhamos neste momento coragem!!!
Professora Doutora Maria Luisa Furlan Costa
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Universidade Estadual de Maringá - UEM
Professora do Departamento de Fundamentos da Educação - DFE
Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação - PPE