Eleições municipais 2020
Artigo: Para alimentar o debate eleitoral - Reginaldo Dias.
“É difícil defender a ideia de que existe uma tendência válida para 70 anos de história de eleições municipais".
Fonte: http://www.cafecomjornalista.com
Por Reginaldo Dias* – Em 2016, quando se encerrou o segundo turno das eleições municipais de Maringá, escrevi no Facebook que o resultado das urnas indicava a quebra de uma barreira na história política recente. Depois expliquei que, desde 1968, a cidade não elegia um prefeito cujo nome se inicia com uma letra vogal, uma tendência forte no período anterior.
Naturalmente, era uma brincadeira para movimentar a minha página no Facebook. Entrando no espírito da brincadeira, alguém descobriu que também era a primeira vitória de um candidato cujo partido era representado por um número par. De 1982 até 2016, os eleitores cravaram os partidos representados pelos seguintes números: 11 (3x), 13, 15 (2x), 25 e 45. Na última eleição, prevaleceu o 12.
A brincadeira, no entanto, era a dimensão lúdica de um exercício que venho fazendo desde que comecei a montar e a atualizar um banco de dados sobre as eleições em Maringá, ou seja, tento perceber os perfis dos eleitos para identificar a tendência dos eleitores.
Para além da curiosidade do dado que tornei público no Facebook, há informações que merecem atenção, embora elas próprias não sejam definidoras do que vai acontecer. Algumas dessas informações eu tabulei e divulguei em dois livros: "Da arte de votar e ser votado: as eleições municipais em Maringá" e "Câmara Municipal de Maringá: 60 anos".
É difícil defender a ideia de que existe uma tendência válida para 70 anos de história de eleições municipais. Nesse longo período, tivemos, por exemplo, três sistemas partidários diferentes. Mesmo o atual sistema partidário, inaugurado com a redemocratização do final da década de 1970, sofreu variações com o tempo.
Atualmente, como se sabe, as antigas siglas passam por um forte desgaste. Além disso, é sempre possível perguntar qual é o peso das legendas partidárias nas eleições municipais. Se houver interesse, poderei debater esses dados em futuras intervenções.
No momento, vou indicar uma constatação que costumo ressaltar, sem transformá-la em uma lei da natureza. Na maioria das eleições municipais de Maringá, houve disputa acirrada para a cadeira de prefeito, com direito a surpresas e a viradas de reta final. Foram poucas as eleições em que um candidato liderou de ponta a ponta e ganhou com folga.
Salvo melhor juízo, isso aconteceu apenas três vezes: em 1972, em 1992 e em 2008. Mesmo assim, em 1972, por falta de pesquisas eleitorais, talvez a percepção não fosse essa. Nas outras duas incidências, porém, houve campanhas previsíveis e enfadonhas.
Outro dado saliente é a rotatividade de grupos políticos no poder. Até o ano 2000, quando passou a existir a possibilidade de reeleição do prefeito, havíamos vivido apenas uma campanha em que o chefe do Executivo conseguira eleger o seu sucessor. É possível dizer que, em parte, isso ocorreu porque o prefeito não tinha tanto interesse assim na eleição do candidato que apoiava, pois passaria a dividir o território com ele, mas houve algumas campanhas em que o apoio efetivo do chefe do Executivo não foi traduzido em votos, embora ele próprio tivesse prestígio. Com o instituto da reeleição, houve insucesso, por motivos variados, nas duas primeiras tentativas de recondução, em 2000 e em 2004.
De 1982 a 2004, tivemos seis eleições. Em cinco ocasiões, foram vitoriosos candidatos que nunca haviam exercido mandato político. A exceção foi em 1992. De 2004 a 2016, tivemos um período de estabilidade do mesmo grupo no poder, o que representou uma dinâmica nova na história da cidade. Em 2016, porém, houve interrupção desse mando político. Qual será a tendência agora? O eleitorado investirá na estabilidade ou na rotatividade?
Há muitas variáveis a considerar. Uma é o fator Bolsonaro, visto que o presidente da República teve uma votação maciça em Maringá. Independentemente da existência de desgaste, os símbolos evocados persistem no imaginário dos eleitores.
Outra variável, evidentemente, é a pandemia, uma novidade cuja repercussão na disputa eleitoral é muito difícil de avaliar, considerando que não há termo de comparação e que o intervalo de três meses que nos separa das urnas é suficientemente longo para gerar fatos que influenciem o humor dos eleitores. Pedindo licença para dizer o óbvio, não será uma eleição sob condições normais de temperatura e pressão.
* Professor e historiador político da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Reginaldo Benedito Dias é mestre em História e Sociedade pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1998) e doutor em História pela mesma instituição. Tem pós-doutorado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.